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quarta-feira, 27 de junho de 2012

Efeitos da poluição aérea e edáfica no sistema radicular de Tibouchina pulchra Cogn. (Melastomataceae) em área de Mata Atlântica: associações micorrízicas e morfologia

O município de Cubatão se encontra no litoral da cidade de São Paulo onde, em sua área e adjacências, se localizam indústrias petroquímicas, de fertilizantes, de cimento e outras igualmente poluidoras que se instalaram no local ao redor da década de 1950 aproveitando-se das facilidades do maior porto marítimo do país, o Porto de Santos, e dentro do lema “desenvolvimento a qualquer custo”.
A localização desse pólo industrial é tal que os poluentes emanados pelas chaminés (material particulado, fluoretos, amônia, óxidos de nitrogênio, hidrocarbonetos, dióxido de enxofre, entre outros) são carreados pelos ventos que sopram em direção a continente e acabam por encontrar a barreira física representada pela Serra do Mar. Essa barreira promove a condensação da água evaporada do mar que, por sua vez, se precipita na região como chuva ácida, ainda carregada de elementos particulados e outros que estavam em suspensão na atmosfera (Ab’Saber 1987).
A partir de 1984 passou-se a perceber visíveis danos à vegetação fanerogâmica, com morte de muitas árvores e conseqüentes deslizamentos de terra, acarretados pelo solo desnudo e as chuvas abundantes que ocorrem na região. A partir de 1988, finalmente, as autoridades constituídas passaram a voltar a atenção para a área, propondo a realização de estudos que visassem o entendimento dos fenômenos que atingiam a região, bem como a proposta de medidas para a recuperação da antiga exuberante vegetação de Mata Atlântica (SMA 1990).
Dentre os vários estudos realizados, constatou-se que, dentre as plantas aparentemente tolerantes aos poluentes da região, encontravam-se espécies de Piperaceae, Urticaceae e Melastomataceae (Leitão Filho 1993). Dentre as espécies arbóreas a dominância relativa nas áreas poluídas parece ser das heliófilas, destacando-se as pertencentes às famílias Ericaceae, Moraceae e Melastomataceae, esta com maior valor de IVI (índice de valor de importância) e tendo como espécie dominante  Tibouchina pulchra Cogn. (Pompéia 2000).
Com o aumento dos problemas ambientais, foram desenvolvidos métodos voltados para o seu monitoramento, utilizando-se, dentre outras possibilidades, plantas ou animais como bioindicadores (Ellenberg  et al. 1991). Esses passam a apresentar reações específicas quando expostos a diferentes tipos de poluentes, fornecendo informações difíceis de serem obtidas e/ou quantificadas de outra forma (Flores 1987). Os biomonitoramentos, passivo e ativo, têm sido amplamente utilizados no Brasil nas últimas décadas para estudos diversos da qualidade do ar e efeito dos poluentes sobre as espécies vegetais (Flores 1987, Domingos et al. 1998, Klumpp et al. 2000a, b, Mazzoni-Viveiros 2000). Estudos referentes às condições edáficas em áreas sujeitas à poluição atmosférica, especialmente na Serra do Mar em regiões próximas ao complexo industrial de Cubatão, têm sido também realizados (Mayer et al. 2000a, b).
O efeito dos poluentes aéreos, oriundos do complexo industrial de Cubatão, Estado de São Paulo, foi analisado em plantas de Tibouchina pulchra de três áreas com diferentes níveis de poluição (o Vale do Rio Pilões tem sido relativamente protegido, em virtude da barreira física representada pela Serra do Mar e a direção predominante dos ventos ser contrária à sua área. A Reserva Biológica do Alto da Serra de Paranapiacaba recebe os ventos que varrem a área industrial e, em conseqüência, é atingida pelos agentes poluentes em suspensão. O Vale do Rio Moji é severamente poluído, em especial pelos materiais particulados e gases oriundos de indústrias diversas das proximidades (Klumpp et al. 2000a). Utilizaram-se sistemas radiculares de espécimes dos biomonitoramentos passivo e ativo, além daqueles das câmaras de topo aberto (ar filtrado e ar não filtrado). Dados quantitativos do sistema radicular, a diversidade de fungos micorrízicos arbusculares (FMAs), a porcentagem de colonização das raízes e a quantidade de esporos presentes no solo da rizosfera foram avaliados. Os resultados demonstraram haver nos indivíduos sujeitos aos maiores índices de poluição: - aumento da colonização micorrízica arbuscular; - maiores diversidade e abundância de espécies de FMAs; - tendência de redução no desenvolvimento do sistema radicular, principalmente em relação ao comprimento e às raízes lenhosas; - tendência de aumento na quantidade de raízes de pequeno calibre. Os resultados confirmaram a tolerância da espécie ao estresse causado pelos poluentes,  demonstrando que essa tolerância pode ser reduzida quando a ação dos mesmos ocorre pelas vias aérea e edáfica. O uso, portanto, da espécie em reflorestamento de áreas de mata atlântica degradadas deve incluir medidas de recuperação do solo para que sejam bem sucedidas.

Revista Brasil. Bot., V.27, n.2, p.337-348, abr.-jun. 2004

O artigo na integra pode ser obtido clicando aqui.

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