Como já se sabe os muriquis ou
monos-cavoeiros (gênero Brachyteles) são os maiores primatas das Américas,
vivem no bioma Mata Atlântica do Brasil, e estão entre os macacos mais
ameaçados do mundo, tendo poucas populações conhecidas em seu restrito território
de distribuição, bem como se sabe que existem duas espécies: os muriquis do
norte (B.hypoxanthus) e os muriquis do sul (B.arachnoides). Ambos são muito
parecidos, tendo o do sul com um negro mais compacto na face, como já tivemos
oportunidade de dizer (Santos 2011a). Nesta oportunidade relatamos a cópula do
muriqui do sul (B.arachnoides) na Serra da Mantiqueira, próximo à divisa dos
estados de São Paulo e Minas Gerais, que presenciamos e registramos em vídeo,
disponível na net (Programa Ambiental: A Última Arca de Noé, 2011).
Em decorrência de nossos estudos
e levantamento da avifauna de São Francisco Xavier, distrito de São José dos
Campos, estado de São Paulo, Serra da Mantiqueira (Santos, 2011b), desde 2002
temos visitado a região florestada do citado distrito (fotos 1 e 2), e, praticamente,
todas as vezes temos encontrado bandos de muriquis e feito muitos registros em
filmes e fotos, inclusive gravações de sua rica vocalização.
Na manhã do dia 10 de março de 2006, estávamos
(o autor e Manoel França) na mata próximo à trilha São Francisco Xavier-Monte
Verde, distrito de Minas Gerais (22 53’50.34”S/45 59’36.96”O), na área da
fazenda Monte Verde, observando um grupo de muriquis. Os animais estavam
forrageando tranquilamente por mais de uma hora em altas árvores, quando por
volta das 11:30 cessaram suas atividades, para dar a já costumeira “soneca”
(autor cit.), (foto 3).
Também estávamos relaxando,
quando o autor foi até um riacho cerca de 15 metros e deparou com um casal de
muriquis copulando em um galho horizontal de uma arvore alta. Imediatamente
voltou, pegou a filmadora (Sony, PD170,digital), o tripé e iniciou a filmagem da
cena raríssima, que durou cerca de três minutos, vídeo disponível na net
(PROGRAMA AMBIENTAL: A ÚLTIMA ARCA DE NOÉ. 2011).
A fêmea estava deitada sobre um
galho de uma enorme árvore, a cerca de oito metros do solo, e o macho
copulando-a deitado sobre suas costas. Ele segurava com a mão esquerda um galho
de um cipó que esta acima deles para ficar mais firme e poder executar melhor a
sua manobra reprodutiva, enquanto a mão direita segurava o corpo da fêmea ou no
tronco onde estavam deitados (foto 4 a
7). Os movimentos eram lentos e cuidadosos.
Depois de cerca de uns três
minutos acelerou seus movimentos, quando foi possível perceber que ejaculou,
finalizando sua “tarefa reprodutiva”. Lentamente afastou-se cerca de 1,5 metros
e se sentou no mesmo galho, recostando-se no tronco. A fêmea também ficou em uma
posição mais sentada. Os dois urinaram praticamente ao mesmo tempo, a fêmea
passou sua mão esquerda em sua genitália cheirou (foto abaixo olhando os
dedos), e em seguida relaxaram e cochilaram como foi bem documentado no vídeo. Ficamos
ali parados, mal podendo acreditar ter visto cena tão rara de se registrar.
Mas, outra cena impressionante, assistimos;
alguns minutos depois da cópula o muriqui
macho estava dormindo, como dito, quando acordou parecendo assustado e olhando à
sua volta levantou e caminhou até a fêmea, movimentou-a um pouco para o lado,
passou uma das mãos em sua genitália e imediatamente cheirou sua mão, olhou
para os lados e voltou lentamente ao seu local e adormeceu novamente. Incrível
como deu para perceber perfeitamente que ele acordou assustado com a
possibilidade de outro macho ter copulado a fêmea enquanto dormia, e assim foi
certificar-se “pelo odor na genitália da fêmea” que ele foi o último a
copulá-la. Infelizmente este
comportamento não foi registrado, pois não esperávamos mais nenhuma cena
importante após a cópula descrita.
Alguns minutos depois saímos do local, deixando
os muriquis descansando a vontade, e retomamos nossas pesquisas sobre a
avifauna, maravilhados com o encontro daquela manhã com o bando de muriquis e,
principalmente, estupefatos, por presenciar e registrar a cópula de um casal de
B.arachnoides em plena liberdade, em seu habitat natural, registro documentado
que talvez seja um dos únicos feitos até hoje na natureza.Publicação on linePDF – www.aultimaarcadenoe.com.br – maio 2011
Direitos autorais reservados: Antonio Silveira Ribeiro dos Santos
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