O estado atual de devastação
das florestas em regiões tropicais, e as grandes áreas degradadas, demonstram a
necessidade urgente de intervenções para a reestruturação da biodiversidade e
suas funções ecológicas (LAMB; ERSKINE; PARROTTA, 2005). Várias paisagens de
florestas tropicais já possuem baixo potencial para manter a biodiversidade,
caso seus fragmentos isolados não forem reconectados de modo a renovar a
possibilidade de fluxo gênico entre eles (METZGER; DÉCAMPS, 1997). A formação
da Mata Atlântica no Brasil, que inclui florestas ombrófilas densas, florestas
semidecíduas e matas de galeria, é um dos maiores centros mundiais da
biodiversidade tropical, assim como uma das mais ameaçadas pelo desmatamento e
degradação (ENGEL; PARROTA, 2001). Atualmente, sua cobertura de florestas
nativas é estimada em menos de 10% de sua extensão original (FUNDAÇÃO SOS MATA
ATLÂNTICA; INPE, 1993). Com relação às áreas protegidas, elas cobrem menos de
2% do bioma original, e as unidades de conservação de proteção integral protegem
atualmente apenas 21% das florestas remanescentes (TABARELLI et al., 2005).
Para os biomas onde o funcionamento ecológico foi comprometido e uma grande
parte da biodiversidade nativa tornou-se seriamente ameaçada, como é o caso da
Mata Atlântica, é preciso realizar uma restauração ecológica em larga escala
(RODRIGUES et al., 2010). Um exemplo desta abordagem é "O Pacto de
Restauração da Mata Atlântica", um ambicioso programa que visa recuperar
15 milhões de hectares da Mata Atlântica brasileira até o ano de 2050
(RODRIGUES; BRANCALION; ISERNHAGEN, 2009).A maioria dos estudos de restauração
desenvolvidos contempla os modelos de composição de espécies, buscando
compreender basicamente a sucessão secundária e as interações bióticas (CAMPOE,
2008), não se atendo aos aspectos de manejo silvicultural.
Conhecimentos
básicos sobre a composição da floresta, na estrutura e dinâmica, são cruciais
para fornecer diretrizes conceituais para a sua restauração, porém, ainda são
limitados para muitas formações da Mata Atlântica (MORELLATO; HADDAD, 2000).
Assim como acontece com outros sistemas altamente diversificados, a Mata
Atlântica possui uma enorme diversidade funcional (relacionado com a biologia
reprodutiva das espécies, herbivoria, competição e a atividade de patógenos)
que é extremamente difícil de gerir ou restaurar (REIS; KAGEYAMA, 2003).
Rodrigues et al. (2009) discorrem que para alcançar a aplicação em grande
escala, visando restabelecer e manter a biodiversidade, a restauração ecológica
deve ser apoiada pela pesquisa bem fundamentada sobre a ecologia dos diversos
tipos de ecossistemas tropicais degradados, com especial ênfase no seu
potencial de auto-recuperação, e suas respostas a intervenções projetadas para
catalisar o processo de restauração. Assim, é importante destacar o papel
fundamental da restauração ecológica para a conservação da biodiversidade, com
o objetivo não só de manter a biodiversidade nativa nos fragmentos florestais
remanescentes, como também de retardar a degradação florestal a que eles estão
expostos (CHAZDON, 2008). Algumas dessas terras degradadas, localizadas
próximas aos remanescentes florestais (fonte de propágulos e animais), podem
naturalmente se recuperar e serem rapidamente revertidas para florestas
secundárias, se as pressões como o fogo, e o pastoreio de gado forem reduzidos
(LAMB, 1998), porém, existem outros locais mais isolados ou severamente
degradados os quais exigirão alguma forma de gestão que facilite sua
recuperação (LAMB; ERSKINE; PARROTTA, 2005; PARROTTA; TURNBULL; JONES, 1997).
Portanto, há a necessidade de desenvolver técnicas de restauração florestal
nestas regiões que sejam de baixo custo de implementação e fornecem algum nível
de retorno econômico direto e a curto prazo para os agricultores e
proprietários rurais (ENGEL; PARROTA, 2001). As plantações florestais podem
exercer o papel de catalisadoras da regeneração natural, em que as árvores
representam apenas a estrutura florestal, facilitando a colonização das
comunidades de epífitas, lianas, arbustos e ervas, o que aumenta a diversidade
de nichos, para a conquista da fauna (PARROTTA, 1997).
Um fator importante a ser considerado em áreas
de plantios de restauração florestal é o manejo silvicultural adotado, o qual
possui o objetivo de eliminar, ou minimizar, os estresses ambientais
nutricionais, hídricos ou de competição, que sejam obstáculos ao
desenvolvimento das árvores nos ambientes degradados, e também possibilita o
efeito catalítico para reabilitação do sistema florestal (ENGEL; PARROTTA,
2003; PARROTTA; TURNBULL; JONES, 1997). Stape et al. (2006) desenvolveram
estudos de restauração florestal que não só avaliam fatores como composição
florística e espaçamento de plantio, mas também, o fator manejo do povoamento,
onde são empregadas práticas silviculturais intensivas, de preparo de solo,
fertilização e controle de plantas invasoras, visando reduzir o estresses
ambientais, como uma tentativa de auxiliar no estabelecimento e desenvolvimento
dos plantios, acelerando os processos ecológicos que levam à restauração de
áreas degradadas.
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